Núcleos

O que são?

PROJETO – IGREJA NA CIDADE

 O início

O Projeto de Nucleação da Cidade surgiu a partir de algumas inquietações referentes à formação catequética que se reproduzia em forma de aula, perdendo toda dinâmica da formação humana e cristã que a própria catequese propõe. Em outras palavras, a catequese dada nas salas do salão, Igreja ou nas escolas reproduz em forma de aula, onde o o/a catequista (professor) é aquele que sabe e o aluno é aquele que ouve. Além disso, constatam-se outros problemas: grupos de catequizandos muito numerosos, o que impede uma metodologia participativa; ausência dos pais no processo de formação da catequese, etc.

Diante dessas fragilidades, torna-se evidente que o problema da catequese é um reflexo de uma problemática mais profunda. Precisa-se pensar um outro jeito de ser Igreja na cidade.  Portanto, é necessário abrir possibilidades de reflexão, junto aos Conselhos de Pastoral e lideranças, sobre um modelo de Igreja mais participativa, comunitária, que envolve seus membros no processo permanente da iniciação cristã e da vida em pequenas comunidades.

Conforme diz explicitamente o Concílio Vaticano II, confirmando a tradição da História da Salvação: “Deus quer que os seres humanos sejam salvos em comunidade” (LG 2, 9). Na Igreja de Jesus não funciona o “cada um para si”. É por isso que os cristãos se reúnem em comunidades, onde acontecem o que a gente chama de “relações primárias”. Ou seja, precisamos de uma base de proximidade geográfica, onde todos (adultos, jovens e crianças) possam conhecer-se, entreajudar-se e partilhar a vida em todos os sentidos. Quando o agrupamento humano é muito grande (e isso sucede nas cidades e nos seus grandes bairros), já não funcionam essas relações. As próprias comunidades cristãs dos bairros maiores são afetadas por esse tipo de problema. Acabam transformando-se mais em sociedades do que em comunidades. Vai desaparecendo nelas o calor humano. As relações ficam distantes e interesseiras, fundadas no individualismo e nos vícios do capitalismo neoliberal.

Foi por isso que, a partir do Vaticano II, impulsionadas por Medellin, surgiram e cresceram por toda a parte as pequenas comunidades, chamadas CEBs. Esse florescer comunitário teve como espelho a tradição da Primeira Igreja, que se reunia em pequenas comunidades, nas casas (At 2, 42-47 e 4, 32-37).

Na conjuntura atual mundial, onde a maioria da população passou a morar nas cidades, essa necessidade de relações primárias em grupos menores passou a ser fundamental, absolutamente necessária. Não bastam mais as grandes Igrejas cheias. Essas servem para concentrações de massa, para as grandes assembléias. Na “selva de pedra” da cultura urbana são necessárias também pequenas comunidades, grupos menores de famílias reunidas por quarteirões, para as pessoas se aproximarem mais, para permitir a vivência na fé cristã da partilha.

Foi assim que nasceram os núcleos urbanos de cristãos. A primeira força deles foram os Grupos de Reflexão, também chamados de Círculos Bíblicos, muito fortes em nossa Diocese desde a década de 70. Na cidade de São Miguel do Oeste, bem como na sede da Diocese, em Chapecó, as Capelinhas de Nossa Senhora foram uma grande força que permitiu realizar esta nucleação em pequenas comunidades. As Capelinhas não dispensaram os Grupos de Reflexão, mas deram a eles um novo ânimo, pois estes estavam começando a fraquejar diante da cultura urbana individualista, alicerçada na lógica da competição do mercado e do consumo.

Conforme já vem sendo refletido há mais tempo junto às zeladoras da cidade, as Capelinhas de Nossa Senhora têm tudo para fazer acontecer na prática a teologia da Igreja das pequenas comunidades na cidade, reunidas nas casas. Elas lembram a Arca da Aliança, que caminhava de linha em linha, de tribo em tribo, antes que o culto do Povo de Deus do Antigo Testamento fosse centralizado no Templo de Jerusalém. A Arca da Aliança era o símbolo da comunhão de Deus com seu Povo, o sacrário de sua presença.

Um indicativo para iniciar uma experiência de nucleação na cidade é partir daquilo que já existe de organizado na cidade (quarteirões, setores, grupos de reflexão, capelinhas...). Percebeu-se na cidade (centro e bairros), um excelente potencial no trabalho realizado pelas Zeladoras das Capelinhas de Nossa Senhora. A partir dessa organização já existente, pode-se começar a visualizar possibilidades para uma primeira experiência de nucleação

Esse projeto de nucleação justifica-se e ganha mais força a partir do Documento de Aparecida, que aponta para a reorganização das estruturas paroquiais, afirmando: “É aconselhável a setorização em unidades territoriais menores, com equipes próprias de animação e coordenação que permitam maior proximidade com as pessoas e grupos que vivem na região. É recomendável que os agentes missionários promovam a criação de comunidades de famílias que fomentem a colocação em comum de sua fé cristã e das respostas aos problemas.” (DA 372).

A partir desse apontamento, a 8ª Assembléia Diocesana, realizada em 2009, também sugere em suas diretrizes:

  1. “construir o projeto de nucleação com o povo, a partir de processos intensos de formação. Ter como fundamento a palavra de Deus, a experiência das primeiras comunidades cristãs e a vida/realidade específica” (DAE no 83).
  2. “Nos núcleos ou comunidades de famílias poderão ser desenvolvidas atividades pastorais, como: catequese familiar; pastoral do dízimo; grupos de reflexão; escolas bíblicas; acolhida às famílias novas da comunidade; novenas e celebrações; visita às famílias; aos doentes e bênção das casas; organização de movimentos comunitários, de grupos de economia solidária, articulando campo e cidade” (DAE no 83).  

Percebe-se que esse projeto é um caminho para a Igreja CEB no meio urbano, reavivando a experiência das primeiras comunidades cristãs, fortalecendo a fé e a vida das famílias em comunidade.

O presente projeto tem como objetivos:

  • Vivenciar uma compreensão de Igreja de acordo com os fundamentos das primeiras comunidades cristãs, relatada no livro dos Atos dos Apóstolos;
  • Celebrar nas casas, vivenciando essa experiência cristã das pequenas comunidades;
  • Superar o esquema da catequese tradicional, passando o Catecumenato da Iniciação Cristã (Eucaristia e Crisma) para os núcleos, em casas de família (catequese familiar);
  • Promover a inserção e a participação das famílias urbanas na comunidade cristã a partir do processo de nucleação;
  • Repensar e reavivar o processo metodológico de como ser Igreja no meio urbano.

Essas pequenas comunidades (núcleos) são espaços que possibilitam experiências de celebrações, por ocasião de algum momento forte da comunidade. Representam um espaço propício para catequese familiar, que facilita algumas experiências dos/as catequizandos, tais como: visitas às crianças recém nascidas, visitas aos doentes, alguns gestos de solidariedade, etc.

Esse projeto pode ganhar força e dinâmica com realizações de seminários na cidade, envolvendo outras organizações de resistências urbanas, justamente para pensar os desafios da cidade e socializar as experiências, clamores e esperanças que vão sendo visualizadas e sentidas pelo povo da cidade.

 

 

        O projeto de nucleação da comunidade Nossa Senhora de Guadalupe, do Bairro Santo Antônio, teve início em 2009. A proposta foi inspirada na experiência realizada pela paróquia São Miguel Arcanjo da cidade de São Miguel do Oeste e foi adaptada para a realidade do bairro. Os núcleos são uma forma de organização da igreja nas casas.